"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores...Passeio pelo escuro, eu presto muito atenção no que meu irmão ouve..."Esses dias minha irmã estava no momento Chico total! Pra falar a verdade nunca fui fã do Chico cantor, porém sempre fui apaixonada no compositor, e me indagava como era possível alguém escrever tantas coisas maravilhosas... verdadeiras poesias que num gesto singular transformavam-se em músicas...Nessa semana fiquei com essa em particular rondando minha mente... e resolvi postá-la aqui como forma de expressão da mais bela tradução de construir algo, ou simplesmente planejar...Se você é um desses construtores eternos... aproveitem!CONSTRUÇÃO
(Chico Buarque)
"Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou prá descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
E agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou prá descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
E agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Sentou prá descansar como se fosse um pássar
oE flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado..."
2 comentários:
Lindo, Lu! E mto. bom q às vezes fiquemos em fases assim, "Chico", ou outros poetas maravilhosos!E Construção para mim é, além de uma linda poesia que faz pensar em muita coisa, uma música q nos faz pensar no ser humano que trabalha nas construções como um ser mais humano do q pensávamos antes da música, mais lutador e sofredor, mas amante e amado, com todos os seus defeitos e qualidades, enfim, como todos nós! A crítica social implícita é... linda!! E a maneira de ele abrir-nos os olhos para uma outra realidade q a mídia em geral não mostra, ou não mostrava na época em q a música foi feita. Uma realidade mais humana e real mesmo...Mas diga... mais o q vocês têm ouvido aí de bom do Chico? Adoro, por exemplo, Olê Olá, ou A BAnda! e são mais antiguinhas ainda! " A minha gente sofrida despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor...a moça feia debruçou na janela, pensando q a banda tocava pra ela... o velho fraco (...)pensou q ainda era moço pra sair no terraço e dançou!" - não é lindo?!!Beijos procê e pra Déia!E olha lá hein, hoje o Rodrigo vai pintar o quarto, e sábado q vem tem o chá de fralda!! Quero vc e a Déia aqui!
Como você, tiro meu chapéu respeitosamente ao Chico compositor, e sua incomparável capacidade de fazer poesia com o urbano, o trabalhador e o oprimido.
Beijos para você!
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