terça-feira, novembro 28, 2006

O GRITO






Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente ao psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para o outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade impõe-se, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar esse amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária aos que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como esperado e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe.


(Martha Medeiros)

3 comentários:

Anônimo disse...

É. Pois é. O pior é que eu sei.

Anônimo disse...

Hahahahahaha
Pô aí!!!!
Sei...
Bjk, ;0)

Adriane BMS disse...

q BOM Q ESSAS SABIDAS LINDAS AÍ SABEM ISSO TUDO NÉ?? É BOM MESMO!! SINAL Q SÃO, NÓS SABEMOS, MULHERES SELVAGENS, q por mais q a acharmos deprimidas etc, são mulheres em contato com seu SELF, Q SAbem de si... e sabem q a vida não é ser feliz ( ou só isso) e sim é uma luta, um amor, uma loucura, uma delícia e uma luta, luta sempre.
Mas sabe, tambe´m pensei uma coisa: tem AS ESCOLHAS q as pessoas fazem na vida, mtas vezes por razões nebulosas e neuróticas né? cuidado com elas,a ssim como co mo auto engano. Nós sabemos, querida, q eu amei muito uma pessoa querida, linda, do sexo masculino. e doida. Mas q ela fez suas escolhas. Assim eu tive q ir por outros caminhos, e achei outros caminhos maravilhosos para minha vida, graças a Deus e a vocês e à minha busca e encontros com esse SELF aí de q fala a Marta, mesmo q seja psicanalista ( não sei se é), ela está falando do mesmo q a Clarissa no Mulheres q correm com os lobos, ou seja, daquilo q, muito mais importante do q o EGO descrito por Freud , foi bem descrito e descoberto por JUNG, seu amigo e discípulo... enfim, nós sabemos disso tudo. é sempre bom lembrar. e viva avida!! e as mulheres. selvagens. e seus SELFs. selvagens. ( NOSSAS ALMAS!)
AH, claro, dos homens que seguem os seus, ( as suas almas) tb.
beijos, saudades, boa noite!!!!!!!!